Reinaldo Azevedo
Já escrevi aqui certa feita que não sou esquerdista porque
rejeito suas postulações teóricas e seu horizonte utópico. Mas não só isso.
Rejeito também a sua falta de vergonha na cara. Nesta quarta, os vermelhos do
nariz marrom foram para as ruas para gritar “Fica Dilma” e “Fora Cunha”, certo?
Eles acham que a moralidade do presidente da Câmara é incompatível com a
decência companheira.
Pois é…Nesta quinta, Dilma almoçou com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, que se considera um dos grandes vitoriosos com a decisão tomada pelo Supremo nesta quinta.
Pois é…Nesta quinta, Dilma almoçou com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, que se considera um dos grandes vitoriosos com a decisão tomada pelo Supremo nesta quinta.
Ora vejam que coisa! Renan é investigado em nada menos do
que seis inquéritos na Lava Jato. Por mais que Rodrigo Janot gostasse de
deixá-lo inteiramente fora da confusão, não há como. Os delatores premiados
insistem em dizer que o senador, por meio de prepostos, recebeu propina do
petrolão.
Nestor Cerveró teve a sua delação premiada homologada pelo
Supremo. Ele repetiu a acusação já feita por Fernando Baiano e afirmou ter
pagado, sim, propina ao agora presidente do Senado — e também para Jader
Barbalho (PMDB-PA), outro governista radical, e Delcídio do Amaral (PT-MS).
Que coisa, né? Rodrigo Janot poderia tentar nos explicar por
que a investigação contra Cunha avançou com tanta celeridade, e a de Renan está
empacada. Enquanto é preservado pelo procurador-geral, que não se atreve nem
mesmo a oferecer uma denúncia contra ele, o valente senador almoça com a
presidente, conspira contra o vice-presidente e ainda tenta jogar o PMDB no
colo do Planalto.
Ora, um jogo em que Renan é conviva de almoço da presidente
para livrá-la do impeachment significa o quê? Já sintetizei aqui: ele se
oferece para ser o esbirro dela na certeza de que, se ela fica no cargo, passa
a ser o esbirro dele.
O que a evidência dos fatos escancara? Político que decide
se opor ao Planalto quebra a cara na Procuradoria-Geral da República, e os que
fazem a genuflexão se dão bem. O próprio Renan estava na categoria dos muito
enrolados no início da Lava Jato. Depois que passou a ser um fiel escudeiro do
Palácio, sentiu o perigo se afastar.
Maioria simples
Imaginem… O Senado terá a palavra final sobre a instauração
ou não do processo. É maioria simples: metade mais um dos presentes desde que
haja metade mais um do total na sessão.
Se houver 42 senadores no dia em que se votar a questão,
bastarão 22 para abrir o processo. Se, no entanto, houver 70, aí seriam
necessários 36.
Se não for abatido pela Lava Jato — por enquanto, não parece
que será —, Renan vai tentar fazer trabalho de sua vida: manter Dilma no poder
na suposição de que ela mexerá os pauzinhos para preservá-lo.
Eis as trocas éticas do governo Dilma.
Ah, sim, Renan Comemorou:
“Não é a minha tese. É a Constituição. O Supremo fez a mesma
leitura que tivemos em outros impeachments, com relação aos procedimentos. Não
havia nenhuma dúvida em relação a isso. É o seguinte: vivemos no Brasil o
bicameralismo. Você não pode afastar um presidente da República a partir da
decisão de uma Câmara [Câmara dos Deputados] sem ouvir a outra Câmara [Senado].
Na prática, não seria o bicameralismo. Seria predominância de uma Casa sobre a
outra”.
Parece razoável o que diz, mas é só lambança. Afinal, o
julgamento cabe ao Senado. Fosse como ele fala, então caberia à Câmara também
julgar.
* Reinaldo Azevedo é colunista de Veja e de outros órgãos de grande expressão da mídia nacional
* Reinaldo Azevedo é colunista de Veja e de outros órgãos de grande expressão da mídia nacional